O Corinthians de Fábio Carille é pragmático. Você sabe o que esperar taticamente da equipe, as escalações não costumam ter surpresas e o time prioriza resultados, não espetáculo.
É assim desde 2017, e isso não é um defeito. Foi desta forma que o Timão foi bicampeão paulista e faturou o Brasileirão de 2017.
Porém, em alguns momentos, isso passa do ponto, e o Corinthians se torna previsível e até certo ponto medroso. Foi assim na derrota por 1 a 0 para o Ceará, na última quarta-feira, que acabou com uma invencibilidade de 13 partidas, mas não foi suficiente para eliminar o Timão da quarta fase da Copa do Brasil.
Tendo uma ótima vantagem obtida no jogo de ida, em Fortaleza, quando venceu por 3 a 1, o Corinthians foi a campo com uma escalação bem parecida com a que venceu o Santos no último domingo, pela semifinal do Paulistão. Mas postura diferente.
Em boa parte do jogo (principalmente a partir da segunda metade do primeiro tempo), o Timão baixou as linhas de marcação exageradamente, esperou o Ceará no campo de defesa e não fez questão de ter a posse de bola.
Mesmo sem empolgar os mais de 36 mil torcedores que foram a Itaquera, a estratégia poderia até ter surtido efeito se a equipe conseguisse criar uma armadilha para os visitantes e encaixasse contra-ataques, mas não foi isso o que aconteceu.
Lento na transição da defesa para o ataque e penso para o lado esquerdo, já que Fagner e Júnior Urso não brilharam e Vagner Love mais uma vez esteve em noite apagada, o Corinthians criou pouco. A melhor chance foi aos quatro minutos, em bola na trave de Clayson, o melhor em campo.
Embora sonolento, o Timão tinha a partida sob controle. O Ceará foi aumentando a posse no decorrer do jogo, mas terminou a primeira etapa com poucas chances claras de gol.
É impossível cravar que faltou concentração ou que os jogadores sentiram o cansaço, mas aos poucos o Corinthians tirou o pé do acelerador e pagou caro por isso. Carille, inclusive, negou que o time tenha se acomodado no resultado do jogo de ida.
A expulsão de Cássio, aos 16 minutos do segundo tempo, para completar, fez a equipe passar sufoco e correr o risco de perder uma classificação que já estava encaminhada.
Após expulsão de Cássio, Carille sacou Clayson, puxou Vagner Love para a ponta esquerda e trocou Sornoza por Ramiro — Foto: GloboEsporte.com
Também é impossível garantir que a história seria diferente se Carille tivesse rodado o elenco e iniciado a partida com escalação alternativa, mas é de se imaginar que alguns reservas oferecessem mais fôlego e motivação em um duelo que se apresentava sem tanto risco.
E passou nos pênaltis contra a Ferroviária, na quartas de final do Paulistão, e Racing, pela primeira fase da Copa Sul-Americana. Sob uma perspectiva otimista, é possível avaliar que isso cria uma "casca" na equipe e mostra que, mesmo sem encher os olhos, o Corinthians é eficiente.
Mas só isso não basta. A atuação contra o Ceará precisa deixar lições, algumas delas já para a decisão contra o Santos, segunda-feira, valendo vaga na final do Paulistão.
O principal ensinamento para a semi do Estadual talvez seja o de que abdicar do ataque, por mais que se tenha uma vantagem, pode ser fatal. Ainda mais quando a sua defesa já não é tão sólida como no passado – o Corinthians foi vazado em 16 dos 22 jogos da temporada.
É verdade que o time de Carille cresce em clássicos e jogos grandes, como será o de segunda-feira. Mas também é fato que há problemas a corrigir. A irregularidade de Sornoza, a dificuldade de Vagner Love para render pela beirada do ataque, a morosidade para trocar passes em alguns momentos, a falta de triangulações...
Que o choque dado pelo Ceará faça o Timão acordar!
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