Com a morte do pugilista Maguila, na última quinta-feira (24), muitos questionamentos foram levantados acerca da condição de saúde apresentada pelo multicampeão nos últimos anos. O peso-pesado havia sido diagnosticado com encefalopatia traumática crônica (ECT), popularmente conhecida como demência pugilística, em 2013.
A doença recebe este nome por ser mais comum em profissionais que lidam com traumas repetitivos na cabeça, atividade comum em lutas, como boxe, esporte praticado por Maguila. Dentre os fatores de risco estão a intensidade dos golpes, a duração da carreira, a idade de início e se há ou não o uso de equipamentos de proteção.
Apesar de ser considerada uma demência assim como o Alzheimer, doença neurodegenerativa mais conhecida, a demência pugilística apresenta um quadro de atuação diferente.
Segundo a medica do esporte Flávia Magalhães, o quadro de ETC se diferencia do Alzheimer, uma doença neurodegenerativa progressiva relacionada a fatores genéticos e envelhecimento, por ter os traumas como gatilhos.
"[As pancadas] geram a impregnação de proteínas específicas em áreas cerebrais, como a proteína TAU. O acúmulo da TAU pode interferir na comunicação e na função neuronal, levando à neurodegeneração. Também podem ocorrer lesões axonais difusas. Os golpes repetidos também podem comprometer a barreira hematoencefálica, permitindo a entrada de substâncias neurotóxicas no cérebro e agravando a inflamação e dano neuronal. Isso pode gerar no atleta alterações comportamentais, como irritabilidade, impulsividade e mudanças de humor. Além disso, pode haver perda de equilíbrio, depressão, ansiedade e apatia", esclarece a médica.
Outros grandes nomes do pugilismo, como Muhammad Ali e Éder Jofre, campeões mundiais e membros do Hall da Fama do esporte, também sofreram com a encefalopatia traumática crônica após deixarem os ringues. Apesar de irreversível, a demência pode ser supervisionada e ter seus sintomas tratados.
"O monitoramento da encefalopatia traumática crônica exige uma abordagem multidisciplinar e contínua, considerando a progressão dos sintomas cognitivos, comportamentais e motores. Mesmo com um quadro não reversível, é passível de tratamento e controle dos sintomas com medicamentos específicos, além de trabalhos com terapia cognitivo comportamental, fisioterapia e apoio psicológico", fnaliza Flávia.
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